A agulha e seu limbo
Na minha bússola diferente
está guardado um lugar
onde a viagem comprida
encontra seu porto, afinal.
Uma viagem sozinha
com essa bússola
divergente...
Os remos, pedaços de fogo
na salmoura do vento;
as velas, pancadas brutas,
dessas inesperadas.
É uma bússola bonita
que aponta sítio encantado
com um tesouro escondido:
o mundo inteiro consertado
ao alcance da mão;
o vento alivia o esforço
a chuva lava o cansaço;
o amor (e seus inclusives)
triunfa, aliviado,
depois da última luta.
Mas ninguém sabe essa bússola
fechada dentro de mim
a chave caída no mar
com indícios de ferrugem.
Por isso a mão,
mesmo ferida do remo,
abriu o mar, ajudando,
o rumo contra as correntes.
E o vento no meu rosto
esculpiu aquilo que sou:
esse perfil exclusivo,
talhado durante o trajeto,
vem da viagem rara
que a bússola especial
me obriga a navegar.
(Difícil à noite
manter a rota,
nas tempestades,
na solidão;
o céu escuro,
cheio de nuvens,
vazio de estrelas
e indicações...
Sereias lindas
confundem o leme
ofertam mapas
fáceis demais...)
Minha bússola
(essa agulha imantada
dentro do seu limbo graduado),
apesar de seus ângulos
de medição assimétrica,
levará meu navio
na direção do tesouro:
no espelho,
verei meu rosto
mais verdadeiro;
na aurora clara,
divisarei nítidos roteiros;
não temerei
nenhuma mão estendida;
descansarei, sossegada,
no abraço que preciso.