quarta-feira, agosto 19, 2009

Meu corpo

Uma noite
devia ter caído

no meu corpo

a esta altura.

Eu falaria
de coisas muito mortas
e, por baixo
do meu vestido,
haveria só uma ausência.

Mencionaria
um destino cumprido,
um segredo desvendado,
uma mocidade preterida.

Inclusive,
ficaria mais fácil
cercar-me
de defesas.

Diria do medo
e seus maquinismos;
das cinzas;
enumeraria pretextos –
o tempo
o frio
até a neve nos cabelos
as rugas...
Todos entenderiam.

Uma mulher
cinzenta
elegante
triunfaria,
admirada.

Mas, no embora da noite,
meu desejo
é uma aurora evidente.

(Por isso
é conveniente
trazer sempre
um dossel).

A vida
(e suas exigências
brutas,
macias,
grandes e
pequenas)
é como linfa
indomável
embaixo
de minha pele.

Esse segredo
exclusivo
(e seus conseguintes
afetos)
sem partilha
sem alvo
é um desperdício...